E a
Bruxa tinha tudo em suas mãos. Conhecia os ritos, participou dos rituais, teve
sucesso nas magias, mas não se Iniciou...
E não
foi por falta de estímulo ou pelo Mestre tê-la orientado que não era o momento,
mas é porque a Bruxa percebeu que aquele não era o seu Caminho!
Vemos
hoje em dia Bruxos que desesperadamente buscam se afirmar. Em sua maioria por
dois motivos: para provar a si mesmo de que é capaz e assim se sentir poderoso
ou apenas por Status. Mas, com aquela Bruxa não seria assim.
Ela
já era uma Iniciada em várias tradições e já passou pelos ritos iniciáticos dessas
inúmeras tradições várias vezes. Mas, ela sempre quis mais. Não pelo status e
nem pelo poder, mas pela sede de conhecimento, por saber que o mundo é vasto e
cheio de coisas a oferecer, por entender que cada Tradição nesse mundo contém
um pouco da Verdade Universal. Ela sempre quis vivenciar plenamente a vida e o
que os Deuses têm a oferecer.
Foram
três dias intensos de ritualística, repasse de conhecimento oral e encontros
nos Outros Mundos. E, no primeiro dia, foi dito para que ficasse atenta, pois
receberia uma importante mensagem nos sonhos. Ela dormiu. Ela sonhou. Mas, ela
não se lembrou. Ela achou estranho isso, mas afirmaram que ela poderia se
lembrar no dia seguinte...
Pois
bem. No segundo dia ela achou incrível tudo o que vivenciou. O contato com os
planos elementais foi surpreendente e de um modo como ela nunca havia
experenciado. O poder e a magia estavam ali, nítidos, conscientes e
cristalinos. E ela ouviu o sussurro dos Antigos. E a mensagem foi clara:
humildade!
Será
que ela não era humilde? Será que os Antigos disseram que ela estava sendo
arrogante? Essa resposta viria no dia seguinte... E ela dormiu. E ela sonhou. E
novamente, ela não se lembrou.
Ficou
muito irritada. Ela havia realizado todos os ritos necessários e ainda assim a
mensagem em sonhos, que deveria ser como um guia para os seus próximos passos
após a Iniciação, não vinha! E veio então o primeiro ritual do terceiro dia.
Como havia prometido, ela fez tudo até o fim, mas dessa vez, não conseguiu
nenhum sucesso. Um rito simples ao qual já estava acostumada de fazer há tempos
não despertava a magia nela. O que havia de errado?
Veio,
então, o segundo rito. Um desdobramento aos planos elementais para receber um
presente ante do rito final. E a Bruxa não saiu do lugar. Ela entrou em estado
Alfa, ela acalmou sua mente, ela liberou a magia e ainda assim não se
desdobrou. Ela não viu nada. Ela não recebeu nada. Ela não se conectou. E,
naquele momento, ela entendeu.
Nos
milhares de caminhos espirituais que trilhamos, temos a oportunidade de
elevarmos nossa consciência pessoal e grupal e assim evoluirmos um pouco como
pessoas e como seres divinos. Mas, alguns desses caminhos não estão acessíveis
a nós naquele momento ou naquela vida, nas muitas que vivemos em nossa
existência. A Bruxa já havia ouvido falar de pessoas que perceberam isso, mas
vivenciar isso era outra história.
Ela
se sentiu fraca, incapaz, excluída e decepcionada consigo mesma. Sabia que
esses sentimentos eram incoerentes, ainda mais porque a mensagem estava clara:
humildade! Humildade em saber reconhecer aonde ir. Humildade em saber reconhecer
seus limites. Humildade em saber que nem todos os caminhos são para serem
trilhados. Os Antigos haviam pedido humildade para ela, pois sabiam que esses
sentimentos viriam à tona quando ela tentasse passar pela etapa final.
Mas,
durante o treinamento de uma Bruxa, é ensinado ética, respeito, tolerância e
honradez. E, junto com a humildade, ela soube reconhecer que era o ego que se
sentia fraco, incapaz, excluído e decepcionado, mas não sua Alma. Então, quando
foi chamada à frente, olharam bem fundo em seus olhos e perguntaram se estava
decidida ela deu passo para trás e disse um sonoro “Não”!
Não.
Eles
disseram que ainda assim ela poderia escolher um presente pelo trilhar que fez.
Mas ela, segura de sua decisão, disse novamente: Não!
Os
ritos prosseguiram, os outros 8 dedicandos iniciaram-se e ela ficou apenas
observando. A Bruxa queria sair correndo, entrar no seio da Mãe Terra, no meio
de um bosque profundo e apenas chorar, gritar e se lamentar. Porém, não era o
momento. Ela não iria estragar o ápice da felicidade da Tribo que estava
recebendo novos buscadores. A dor é inevitável, mas o sofrimento é escolha
nossa.
Por
fim, tudo acabou. Fotos, abraços, danças, bolos, troca de presentes. E a Bruxa
estava ali apenas em corpo, mas em Alma dentro de si mesma, consolando-se e
aceitando o inevitável. E ainda assim, ficou feliz. Feliz porque após tudo
isso, os Mestres daquela tradição a ouviram e depois de entenderem sua escolha
e a parabenizaram pela honra de reconhecer seu próprio caminho e o que deve ou
não fazer segundo as escolhas do seu próprio coração. Essa postura fez ela
reconhecer mais ainda o quão aquele caminho que ela havia decidido não trilhar
era puro, verdadeiro e xamânico.
Se a
Bruxa, mesmo após todos os sinais, mesmo após todos os alertas tivesse seguido
na Iniciação, ela sabia que teria se decepcionado muito mais. E que os horrores
do sofrimento estariam presentes até o fim de sua vida terrena.
Hoje
a Bruxa está mais leve, mais centrada, tranquila e serena. Sabe que fez a
escolha certa. Mas, tudo que viveu foi muito bem aproveitado, pois agora é mais
disciplinada, focada e próspera.
Ela
apenas deseja que os todos os outros Bruxos também saibam escolher com
sabedoria e humildade. Abençoados sejam todos!
Dallan Chantal