segunda-feira, 11 de abril de 2016

CONTOS DE FOGUEIRA - O dia em que a Bruxa não se Iniciou


E a Bruxa tinha tudo em suas mãos. Conhecia os ritos, participou dos rituais, teve sucesso nas magias, mas não se Iniciou...

E não foi por falta de estímulo ou pelo Mestre tê-la orientado que não era o momento, mas é porque a Bruxa percebeu que aquele não era o seu Caminho!

Vemos hoje em dia Bruxos que desesperadamente buscam se afirmar. Em sua maioria por dois motivos: para provar a si mesmo de que é capaz e assim se sentir poderoso ou apenas por Status. Mas, com aquela Bruxa não seria assim.

Ela já era uma Iniciada em várias tradições e já passou pelos ritos iniciáticos dessas inúmeras tradições várias vezes. Mas, ela sempre quis mais. Não pelo status e nem pelo poder, mas pela sede de conhecimento, por saber que o mundo é vasto e cheio de coisas a oferecer, por entender que cada Tradição nesse mundo contém um pouco da Verdade Universal. Ela sempre quis vivenciar plenamente a vida e o que os Deuses têm a oferecer.

Foram três dias intensos de ritualística, repasse de conhecimento oral e encontros nos Outros Mundos. E, no primeiro dia, foi dito para que ficasse atenta, pois receberia uma importante mensagem nos sonhos. Ela dormiu. Ela sonhou. Mas, ela não se lembrou. Ela achou estranho isso, mas afirmaram que ela poderia se lembrar no dia seguinte...

Pois bem. No segundo dia ela achou incrível tudo o que vivenciou. O contato com os planos elementais foi surpreendente e de um modo como ela nunca havia experenciado. O poder e a magia estavam ali, nítidos, conscientes e cristalinos. E ela ouviu o sussurro dos Antigos. E a mensagem foi clara: humildade!

Será que ela não era humilde? Será que os Antigos disseram que ela estava sendo arrogante? Essa resposta viria no dia seguinte... E ela dormiu. E ela sonhou. E novamente, ela não se lembrou.

Ficou muito irritada. Ela havia realizado todos os ritos necessários e ainda assim a mensagem em sonhos, que deveria ser como um guia para os seus próximos passos após a Iniciação, não vinha! E veio então o primeiro ritual do terceiro dia. Como havia prometido, ela fez tudo até o fim, mas dessa vez, não conseguiu nenhum sucesso. Um rito simples ao qual já estava acostumada de fazer há tempos não despertava a magia nela. O que havia de errado?

Veio, então, o segundo rito. Um desdobramento aos planos elementais para receber um presente ante do rito final. E a Bruxa não saiu do lugar. Ela entrou em estado Alfa, ela acalmou sua mente, ela liberou a magia e ainda assim não se desdobrou. Ela não viu nada. Ela não recebeu nada. Ela não se conectou. E, naquele momento, ela entendeu.

Nos milhares de caminhos espirituais que trilhamos, temos a oportunidade de elevarmos nossa consciência pessoal e grupal e assim evoluirmos um pouco como pessoas e como seres divinos. Mas, alguns desses caminhos não estão acessíveis a nós naquele momento ou naquela vida, nas muitas que vivemos em nossa existência. A Bruxa já havia ouvido falar de pessoas que perceberam isso, mas vivenciar isso era outra história.

Ela se sentiu fraca, incapaz, excluída e decepcionada consigo mesma. Sabia que esses sentimentos eram incoerentes, ainda mais porque a mensagem estava clara: humildade! Humildade em saber reconhecer aonde ir. Humildade em saber reconhecer seus limites. Humildade em saber que nem todos os caminhos são para serem trilhados. Os Antigos haviam pedido humildade para ela, pois sabiam que esses sentimentos viriam à tona quando ela tentasse passar pela etapa final.

Mas, durante o treinamento de uma Bruxa, é ensinado ética, respeito, tolerância e honradez. E, junto com a humildade, ela soube reconhecer que era o ego que se sentia fraco, incapaz, excluído e decepcionado, mas não sua Alma. Então, quando foi chamada à frente, olharam bem fundo em seus olhos e perguntaram se estava decidida ela deu passo para trás e disse um sonoro “Não”!

Não.

Eles disseram que ainda assim ela poderia escolher um presente pelo trilhar que fez. Mas ela, segura de sua decisão, disse novamente: Não!

Os ritos prosseguiram, os outros 8 dedicandos iniciaram-se e ela ficou apenas observando. A Bruxa queria sair correndo, entrar no seio da Mãe Terra, no meio de um bosque profundo e apenas chorar, gritar e se lamentar. Porém, não era o momento. Ela não iria estragar o ápice da felicidade da Tribo que estava recebendo novos buscadores. A dor é inevitável, mas o sofrimento é escolha nossa.

Por fim, tudo acabou. Fotos, abraços, danças, bolos, troca de presentes. E a Bruxa estava ali apenas em corpo, mas em Alma dentro de si mesma, consolando-se e aceitando o inevitável. E ainda assim, ficou feliz. Feliz porque após tudo isso, os Mestres daquela tradição a ouviram e depois de entenderem sua escolha e a parabenizaram pela honra de reconhecer seu próprio caminho e o que deve ou não fazer segundo as escolhas do seu próprio coração. Essa postura fez ela reconhecer mais ainda o quão aquele caminho que ela havia decidido não trilhar era puro, verdadeiro e xamânico.

Se a Bruxa, mesmo após todos os sinais, mesmo após todos os alertas tivesse seguido na Iniciação, ela sabia que teria se decepcionado muito mais. E que os horrores do sofrimento estariam presentes até o fim de sua vida terrena.

Hoje a Bruxa está mais leve, mais centrada, tranquila e serena. Sabe que fez a escolha certa. Mas, tudo que viveu foi muito bem aproveitado, pois agora é mais disciplinada, focada e próspera.


Ela apenas deseja que os todos os outros Bruxos também saibam escolher com sabedoria e humildade. Abençoados sejam todos!


Dallan Chantal