terça-feira, 29 de dezembro de 2015

CONTOS DE FOGUEIRA - A Lua Negra da Alma


Quando fiz vinte anos, decidi voltar para a pequena cidade rural de meu nascimento. Mas, ao invés de ir morar na casa de meus pais, decidi viver com Baba Yaga – a bruxa local. Sua casa era uma típica casa de senhores do interior, um grande latifúndio afastado da cidade, com grandes portas e janelas e um imenso jardim coberto de árvores sagradas que guardavam tudo. Ela abriu a porta da frente pra mim quando cheguei, e eu, de bom grado, entrei. O que tinha a temer? Já fizera tudo certo antes: conversei com ela por muito tempo, fiz inúmeras visitas em sua propriedade, pude conhecer alguns de seus amigos. Tudo isso antes dela me aceitar como seu aprediz.

Assim que entrei na casa, fiquei encantado pela decoração de seu interior. Plantas penduradas no teto cobriam quase todas as superficies. Duas vassouras cruzadas e colheres de ferro entalhadas com alguns símbolos obscuros pra mim pairavam sobre as portas dianteiras e traseiras. Haviam prateleiras nas paredes, cobertas de frascos com óleos, tinturas e ervas. Belas estátuas de deuses e deusas, altares, paus, ossos e pedras completavam o ambiente juntamente com algumas velas que queimavam preguiçosamente.

A bruxa me deu uma esteira de palha para dormir no chão da sala de jantar. Deitado lá, à noite, começei a ver através deste glamour folheado a ouro de contos de fadas e toda aquela fantasia começou a ruir em folhas secas. Ervas daninhas começaram a brotar das frestas nas paredes e o mofo no teto contaminava toda a casa com esporos doentios.


Por três meses varri, limpei, esfreguei e cozinhei pra ela. Pus o lixo pra fora e reguei todas as plantas. Eu era um servo de Baba Yaga. Em troca de todo este serviço e dedicação ela me disse que iria me ensinar as artes das bruxas. Ela me disse, certa vez, que era curandeira, herbalista, vidente e bruxa. Suas palavras e promessas me encantaram, como doce na boca de uma criança. Mas pouco me foi dito ou ensinado nesses meses de servidão.

Conheci alguns de seus aprendizes durante este tempo. Eles eram cascas secas de seres humanos, corpos sem alma – ranzinzas, rancorosos, doentes. Fiquei preocupado e alarmado, pois ela não via nada de errado nisso. Foi ai que o glamour que Baba Yaga havia lançado sobre si mesma começou a rachar aos meus olhos. 


Como fazia muitos anos que não visitava a casa de meus finados pais, provavelmente ninguém na região me reconheceria - eu era um total estranho. E, devido as escaças memórias de criança vividas ali, eu não conheceria muito bem a região. A bruxa não quis me ajudar, de forma alguma; não me falou sequer o horário do ônibus ou como chegar na vila propriamente dita.



Seu desejo era ter-me integralmente dependente dela, assim eu acreditaria em cada uma de suas palavras. Disse até que se eu a deixasse um grande mal aconteceria a mim.


Começei a perceber o quão doente ela era, tanto fisicamente e espiritualmente. Creio que ela deveria estar morta devido a tantas doenças. Como uma pessoa poderia curar os outros quando esta não pode curar a si mesma? Mas ela podia sim curar a si mesma – alimentando-se da alma dos outros para se manter viva. 

Baba Yaga me encantava, falando-me do meu poder e potencial e de como eu poderia ser aproveitado, mas ela nunca quis me ensinar nada. No fim, sei, ela só queria me engordar para enfiar-me em seu forno e me comer depois – banquetear-se com minha alma, assim como ela já tinha feito com os outros antes de mim.

 
Entretanto, ela não contava com minha astúcia e coração puro. Eu escutei a minha intuição, a pequena voz da verdade, e enganei a bruxa. Escapei de suas garras, não incólume, mas com a minha alma ainda intacta. Saí de fininho a meia-noite enquanto ela roncava alto em seu quarto.  Desencantei a fechadura, bloqueei seus alarmes e corri, corri noite adentro, desesperado, seguindo as estrelas e minha voz interior. Chegando na cidade, segui a ermo e reconheci minha antiga e nova casa. Entrei e queimei tudo o que ela tinha tocado. Istintivamente aprendi como fazer escudos e barreiras para me proteger e como me ocultar para que ela não me encontrasse através de meios mágicos.
 
Não foi a toa o que Baba Yaga me ensinou. Ela tinha muitas lições a me dar, mas na época eu não as valorizei. Olhando no espelho, posso vê-la me encarando, um reflexo da minha alma. O que eu poderia me tornar se fizesse as mesmas escolhas que ela fez. Eu era inocente, ingênuo, e confiante antes de caminhar através de sua porta, mas quando saí ,estava desconfiado, vigilante e consciente dos males que poderiam habitar o mundo, bem como a alma do ser humano; as mentiras, amargura, ressentimento, raiva e todo o medo.
 
O medo de confiar, medo de amar, e também o medo de morrer. Se eu deixar o medo dominar minha vida, eu me tornarei ela e, portanto, meu maior inimigo.
 
Ela não era puramente malvada. Contudo, tinha sofrido muitas maldades na vida – grandes maldades. Ela não me disse isso diretamente, mas deixou escapar e pude sentir e ler as manchas em sua alma, claras como o dia. Aqueles que ela amou e confiou magoaram-na profundamente. E, ao invés de deixar passar todo o mal, esvair-se e encontrar o perdão para si mesma e para seus malfeitores, ela acabou se tornando o que mais desprezava: a abusada tornou-se abusadora.
 
Eu poderia ter sido ela...
 
Entretanto, me recusei a ser abusado e deixei pra trás seus maus caminhos. Por muito tempo desejei vê-la morta, mas agora só desejo a sua paz e felicidade, pois sei que gente feliz não enche o saco. Ademais, sua alma não encontrará descanso no submundo devido a todas maldades causadas a almas inocentes. Esteja certo: o que vai, volta.


Às vezes, quando você procura Baba Yaga para obter iluminação, ela lhe dá mais trevas, refletindo a escuridão dentro de sua própria alma. Se você aceitar a sua escuridão interior, e sei que toda sombra é apenas potencial puro, você seguirá o Caminho, e sua Jornada estará cada vez mais próxima daquilo que sempre procurou.


Morgan Lyra

domingo, 27 de dezembro de 2015

Como me tornei Bruxo


Merdas acontecem. Não sei dizer se são causadas pelas manchas solares, pelo solstício de verão, pela Lua Negra que se aproxima ou se é devido ao meu retorno de Saturno. É... bem vindos a encruzilhada, pessoal!

Eu passei o último ano vivenciando a Noite Escura da Alma, tentando aceitar o que os Espíritos jogavam em meu caminho (e jogavam mesmo, porque era cada pancada na cara e cada rasteira...). Gosto de pensar que eu tenho  me saído bem, mas algumas perguntas e divagações tem sido permanentes:  Quem sou eu? Quem desejo ser? O que desejo fazer? Qual direção levar minha vida e Arte? Minha faculdade de agronomia e meus escritos definitivamente sofreram. Tenho estado tão introspectivo e minhas práticas espirituais têm sido tão privadas que eu tive alguns problemas em escrever e mostrar alguns mistérios para o público. Mas, Saturno e eu temos conversado (é bem mais fácil seguir o Velho do que resistir), me levando, de alguma forma a um esmagamento de todos os meus medos e divagações que fiquei pensando no por que eu deixei eles me pararem, para começo de história.

Saturno diz para ser responsável pelas suas coisas e atos: Eu sou um curandeiro e purificador de almas; eu sou vidente que vê o futuro em sonhos, visões, cartas, transe e presságios na natureza; eu sou um herbalista que cultiva, colhe e manufatura curas e venenos; eu sou um Bruxo que comunga com os espíritos dos animais, plantas, minerais e a morte – nesse mundo e nos outros mundos; eu sou um Sacerdote da Luz, das Sombras, Destino, Morte e Sexo. Esse é quem sou agora. Mas, quem eu era antes?

Foi assim que me tornei Bruxo...

Cresci flertando entre o espiritismo, umbanda, catolicismo e protestantismo. Minha mãe ia a vários centros e terreiros e, todo o Domingos ia à missa. E eu, a acompanhava.  Como diz ela em seu ditado: “eu não era muito católico”. E não era mesmo. Não acreditava, ou não queria acreditar que tudo o que existia era aquilo. Um deus todo poderoso e distante, todo amoroso e que deu às suas crias o livre arbítrio, mas que se estes não fizessem o que ele queria ganhavam um passaporte sem escalas para a danação eterna. Ainda mais que eu, desde criança, consegui vislumbrar entre os mundos e ver o que acontece por lá.

Era uma criança solitária cheia de amigos “imaginários”. Com o avançar dos anos e em conjunto com a turminha do bairro em que morava, comecei a freqüentar a igreja evangélica para me enturmar, distrair e me livrar, nem que fosse por uns instantes, do meu ex-padrasto alcoólatra e abusivo. Ele até pode ter sido uma pessoa boa sóbria, mas depois da bebida, se transformava: gritava, humilhava, diminuía, quebrava as coisas que você mais gostava, etc... E foi na igreja evangélica que conheci o inferno cristão.

É engraçado como a maioria, se não a totalidade, dos evangélicos são um bando de hipócritas, mentirosos, gananciosos, corruptos, sexualmente “desvirtuados” e malvados (leia-se diabólicos). Transei com mais homens (comuns, líderes e pastores) que veementemente  advogam contra a abominação da homossexualidade do que com qualquer homem de outro credo. Credo!

Embora eu continuasse indo para a igreja em busca de corromper os varões do senhor, foi no meu aniversário de 13 anos, depois de assistir Harry Potter e a Pedra Filosofal que me ardeu uma pergunta no espírito: será que existem bruxas de verdade? Logo que saí do cinema, fui à livraria Siciliano, na seção de ocultismo, pesquisar. Eu estava de cócoras lendo os diversos títulos quando do nada cai um livro na minha cabeça: Bruxaria Teoria e Prática da Ly de Angeles. Como aquele livro era lindo e misterioso! Confesso que quando o folheei quase não entendi nada. Porém, mesmo assim, estava ali em minhas mãos a prova cabal de que bruxas são reais.

Comprei esse livro e o mantive por muito tempo guardado, velado, longe dos olhos dos profanos. Ele era meu arauto de libertação, meu torá, minha escritura sagrada! Logo depois, ainda vivendo como agente duplo (igreja evangélica durante os domingos, sexo com cristãos durante a semana e estudos de bruxaria autodidata), encontrei um livro mais fácil para minha compreensão: ABC da Bruxaria do Claudiney Pietro. Um livro dedicado ao público infantil.  Foi a partir deste que comecei a compreender melhor o que era Wicca e Espiritualidade da Deusa. E foi de posse dele que iniciei no caminho dos sábios meu melhor amigo – Dallan Chantal.

Mas chegou um tempo, juntamente com a maioridade legal, em que eu estava cansado de toda a podridão e tolhimento da igreja e do meu ex-padrasto. Foi quando me assumi enquanto gay e bruxo (o relato completo deste período da minha vida fica para outro momento, pois ele é grande e muito conturbado). Após longa data de estudos e algumas práticas solitárias, encontrei em minha cidade, pessoas ditas loucas (ou macumbeiras ) como eu, no 1º Encontro Pagão de Uberlândia. Ah, e foi como um bálsamo descobrir e vivenciar aquilo que eu vinha lendo por muito tempo. Não muito depois, fui convidado a participar das reuniões íntimas do grupo chamado Os Amados da Deusa em 25/05/2008. Com o passar dos anos, o grupo tornou-se um Coven: Tuatha dé Dannan. Foram 5 anos de vivência, práticas, estudos, encontros públicos, irmandade e magia.

Após esses anos juntos, chegou-se um ponto em nossos caminhos no qual cada um quis trilhar sozinho sua própria jornada e nesse momento o Coven adentrou as brumas...

Depois desse período, comecei a estudar outras fontes e autores que não eram wiccanos, espiritualistas ou que pertencessem a outras vertentes da bruxaria que não a europeia. Encontrei pela primeira vez a Bruxaria Tradicional. Os sinos soaram, as borboletas voaram em meu estômago. Era primitivo, misterioso, natural – baseado no folclore e nos contos de fadas que eu amo tanto. Estava perdidamente apaixonado.

Essa Arte era tudo o que acreditava e sempre acreditei, embora não tivesse embasamento algum, naquele momento. Eu amei profundamente o estilo de bruxaria sombrio, secreto, o demônio na encruzilhada, terra, plantas e ossos. Fiquei excitado como nunca antes, pois era sexy e mais liberal do que a subserviência dos outros caminhos mágicos.

Aprendi durante minha jornada que estudar outros caminhos e crenças adjacentes a sua própria prática e caminho é enriquecedor (sim, saia da sua zona de conforto; estudo nunca é demais). Estudei Reiki Tibetano (e fui iniciado), Wicca, Espiritualidade da Deusa, Xamanismo, Khemetismo, Vodou Haitiano, Hoodoo/Rootwork (ainda estudo e pratico), entre outros.  E o interessante é que os elementos comuns que falaram ao meu espírito dentro da Bruxaria Tradicional estavam presentes nesses caminhos também: trabalho espiritual, magia simpática, magia folclórica, culto aos Ancestrais e o trabalho com sangue, ossos, plantas e terras.

Hoje, sou Bruxo, enquanto Sacerdócio e Ofício, e muito mais animista do que deísta. Peregrinar por todos esses caminhos fora da minha zona de conforto me permitiu adquirir conhecimentos que complementaram e enriqueceram minha própria prática, arte e caminho. Eu encontrei paz e equilíbrio trabalhando com todos os Espíritos, deste e de outros mundos.

De repente, toda poesia, contos de fadas, mitos e símbolos antigos fizeram sentido pra mim em um nível bem profundo, sabe? Como um clique na parte mais primitiva do meu cérebro. Minhas habilidades místicas, mágicas, espirituais e naturais foram fortificadas. Deixei de lado toda descrença e apenas segui com minha intuição e as interações com os Espíritos.

Merdas acontecem e elas são necessárias para adubar o caminho. E eu estou feliz e grato por ter trabalhado meus medos e limitações...



Morgan Lyra

SACERDOTISA - TARÔ


Demorei um pouco, mas vamos continuar nossos estudos dos Arcanos Maiores do Tarô. E agora, irei falar sobre uma das cartas mais enigmáticas de toda a estrutura do Tarô, talvez até mais que a Lua. Pois, diferente do Arcano XVIII (Lua), o Arcano II (Sacerdotisa), não fala por ilusões e signos que podem ser decifrados. Ela fala claramente, mas nunca totalmente. Sempre existirá um mistério a mais, uma coisa oculta, um segredo não revelado. É assim que ela age.

Na jornada do Louco, quando ele passa pelo Mago, vivenciamos aquele momento que temos a ideia perfeita, temos em nossas mãos a possibilidade de conseguirmos qualquer coisa e somos dinâmicos demais, o que nos leva a uma experiência no mundo exterior. Mas, quando passamos para a Sacerdotisa, é o oposto que se apresenta: conseguimos identificar os prós e contras da realização de nossas ideias, analisamos demais, agimos de menos e somos introspectivos, permitindo-nos pela primeira vez olharmos nosso interior e os segredos do que nos cercam.

O Mago está em pé e tem a autonomia do ir e vir quando quiser, mas a Sacerdotisa está entronada, numa atitude passiva, quieta e reflexiva. Mas, ambos ainda vivenciam o poder da vontade e seus desejos permanecem os mesmos, mudando apenas a forma como encaramos os desafios da vida. Ou seja, aqui não temos o destino e nem terceiros com poder de interferir em nossas vidas, mas apenas as decisões diárias que fazemos constantemente.

Simbologia

Aqui vemos uma mulher retratada, o que já era de se esperar, visto que o número 2 é considerado como sendo essencialmente a contraparte do número 1 (1 Masculino, 2 Feminino). A mulher é dotada de um imenso poder de fertilização e criação, no entanto, aqui ela está representada com muitas roupas que escondem totalmente seu corpo numa alusão de repressão dos sentimentos e desejos em prol de uma mente mais aguçada e objetiva.

Como está sentada num trono e suas pernas estão cruzadas (em algumas ilustrações as pernas estão apenas fechadas), podemos entender que a ação não é o forte desse arcano, mas a inação e a ponderação. Vemos ainda que suas mãos (símbolo de ação) estão repousadas em seu colo enquanto segura um livro ou um pergaminho, dependendo da ilustração do baralho. Isso claramente reforça a questão da inatividade da Sacerdotisa, além de identifica-la como essencialmente racional. Pense: todos os atributos femininos principais estão suprimidos (movimento fluídico, fertilidade) enquanto que o poder da mente é alimentado.

O que essa mulher então quer nos dizer? Em alguns decks (baralhos) a Sacerdotisa empunha também uma chave mostrando que tem o poder de conceder algo. A Sacerdotisa não vai até você. É você quem vai até ela. Seria, portanto, uma esfinge? Decifra-me ou te devoro? A combinação de chave e livro mostra que ela detém o conhecimento de todos os segredos universais, mas apenas uma parte do livro da vida está à mostra, o que nos leva a crer que nem tudo será revelado e somente parte do segredo descoberto. Será por isso que em algumas ilustrações ela tem um véu atrás de seu trono? O véu simboliza ilusão, mas como ela tem um livro aberto, o significado se altera para falar que algo sempre estará oculto e que se conhecerá apenas uma parte. Pelo menos nessa etapa da jornada.

A Sacerdotisa também possui como ornamento uma coroa, um dos símbolos máximos de poder e status. Mas, que tipo de poder é esse? Um que não é apenas cotidiano. Ela tem uma capacidade de elucubração nata sobre qualquer assunto e um dos principais é sobre a própria vida. Ao lado de seu trono é possível ver duas colunas, uma clara e uma escura. Essas colunas são encontradas em todos os templos maçônicos, Jakin e Bohas, e representam um portal de acesso a um recinto sagrado e a dualidade da existência. A Sacerdotisa nos fala da capacidade infinita do poder da mente e do nosso interior, portanto, o recinto sagrado que ela guarda está contido dentro de nós mesmos. Nós somos o sagrado. Nós somos o segredo. Porém, isso não é sentido, sabido e entendido nessa etapa da jornada. No entanto, adentrar nesse portal é a chave que destrancará o acesso aos Grandes Mistérios da Gnose que a Sacerdotisa guarda. Como diz Nei Naiff: o autoconhecimento é a única evolução!

Tarologia

A segunda lâmina do Tarô nos fala de um momento de parada e reflexão necessárias para o momento da vida. É preciso muita análise, pois não se está dando a devida atenção aos detalhes. Como diz um ditado popular: o diabo mora nos detalhes! Não me refiro aqui ao Diabo da lâmina XV, mas ao sentido popular mesmo que se não tivermos atenção poderemos fracassar nos nossos intentos por erros simples, mas que juntos podem ser catastróficos.

Junto com muita análise vem também muitos sentimentos, desejos e sonhos retidos. Isso pode se dar por vários motivos: decepção, falta de auto estima, medo, desconfiança – em relação a si mesmo e aos outros. Os problemas que isso pode acarretar é o desgaste da vontade, o que levará ainda mais a estagnação que já se faz presente. E quem ocasiona isso tudo é o próprio consulente (aquele que consulta o tarô pedindo conselhos), visto que, assim como o Mago, essa carta tem todo o poder que quiser em suas mãos para realizar sua vontade. Aqui o destino ou terceiros não influenciam nas ações. No entanto, se a Sacerdotisa quiser utilizar de seus conhecimentos para fazer magia e influenciar o destino ou os outros como quiser, ela atingirá facilmente seus objetivos. A magia segue a Sacerdotisa por onde ela andar.

Mas, como já disse, a Sacerdotisa não age! Para prosseguir no caminho da evolução é necessário agir, praticar, fazer. Com o poder dela os planos já foram traçados, o caminho perpassado mentalmente e a forma de atingi-lo é clara, no entanto, se não houver movimento, como se atingirá a realização dos desejos? Dando um exemplo bem esdrúxulo, já ouvimos falar de pessoas que nunca usam aquela roupa bonita ou aquele perfume caro esperando uma ocasião importante e, de repente, um acidente, uma doença ou a própria morte as impedem eternamente de fazerem aquilo que queriam. Assim também é com esse arcano. É preciso sair da contemplação antes que se percam as coisas boas da vida por puro e genuíno medo de se arriscar!

Manter as coisas como são te deixará com o domínio completo da situação. Porém, uma situação que com o tempo não corresponderá às expectativas desejadas, não sanará a fome de nossa vontade e não trará alegrias. Lembre-se: o Mar Morto tem esse nome por um motivo. Reflita sobre isso.

Taromancia

Como disse no texto anterior, a taromancia não deve ser confundida com a tarologia, pois se corre o risco de uma interpretação errônea, sendo a taromancia a leitura do oráculo e a tarologia o estudo dos símbolos das cartas. A taromancia é como o arcano deverá ser interpretado durante uma consulta de acordo com a questão formulada e com o plano elemental da mesma.

Segue novamente para elucidação: o plano material terá relação com o corpo, ciência, dinheiro, trabalho, posses, casamentos, contratos, Terra; o plano mental com a alma/psique, filosofia, estudos, profissão, intenção, planos, ideias, Ar; o plano sentimental com a alma/emoção, arte, desejos, paixão, sonhos, amor, anseios, Água; e o plano espiritual com o espírito, religião, conceitos, dom, intuição, magia, ocultismo, Fogo.

Vejam a diferença de significação de acordo o plano elemental:
  • Material: trabalho sem fim, irrealização, burocracia, obstáculos transponíveis, acordos em fase de análise.
  • Mental: análise crítica, conhecimento de todos os fatos, investigação meticulosa, dúvida, sabedoria, boa memória, segredo daquilo que se deseja, inexpressividade.
  • Sentimental: mágoa, rancor, carência, falta de prazer naquilo que se faz, amores impossíveis, castidade, ocultamento dos desejos, introspecção, lealdade, dedicação.
  • Espiritual: mediunidade desperta, dons místicos, sabedoria, devoção, religiosidade aflorada, mansidão, piedade, altruísmo, intuição, autoconhecimento.

Também citei outras duas interpretações do arcano de acordo com a Casa que a carta cair dentro de um método pré-definido antes da jogada: a Casa de Conselho ou a Casa Negativa. Com relação ao atributo negativo, a interpretação não deve ser realizada de acordo com o que achamos ruim aos olhos éticos e morais que temos, mas de acordo com o simbolismo contrário do arcano. Exemplo: se a Sacerdotisa representa inação e reflexão, numa Casa de análise negativa ela informará que se está agindo demais sem pensar direito em todas as nuances daquela situação.
  • Negativo: ação sem reflexão que leva ao erro, engodo, interpretação errônea dos fatos, pessoa prolixa e redundante que se torna enfadonha, caos mediúnico, egoísmo.
  • Conselho: refletir mais antes de agir, momento de guardar os pensamentos e/ou sentimentos para si. Quando essa carta sai numa jogada, revela que o consulente tem as respostas dentro de si e que o tarô e nem ninguém as revelará para ele, por isso é imprescindível meditar sobre o assunto para escolher melhor.

Musicalidade

Uma coisa que adoro fazer é relacionar os arcanos com canções. As músicas transmitem sentimento e tem a capacidade de nos transportar para o cerne de determinada questão tão fortemente que facilita a assimilação do arcano.

Portanto, deixo com vocês três canções que penso se relacionarem com esse arcano. Caso vocês conheçam outras canções que podem representar a Sacerdotisa, por favor, sintam-se a vontade de compartilharem nos comentários. ;)

BEYONCÉ – Ave Maria

SERIDINA – Hecate

MILTON NASCIMENTO – Maria, Maria

Conclusão

A Sacerdotisa guarda em si mistérios insondáveis e, por isso, mesmo que ela fale diretamente, nunca contará toda a verdade. Sempre existirá algo oculto. Quer um exemplo? Poucos devem ter notado um pequeno detalhe que sua vestimenta traz: uma cruz. Ou seja, a Sacerdotisa revela a verdade em sua plenitude, no entanto, nós ainda não temos o discernimento necessário para compreender plenamente aquilo que ela diz. O Livro da Vida que traz consigo ainda não foi totalmente assimilado e nós nem sequer estamos preparados. Ainda há um caminho longo pela frente até que todo ele seja sabiamente entendido. Por isso mesmo ela pede tanta reflexão, análise, meditação e elucubração.

Da mesma forma que o Mago, ela tem vários poderes, mas não os utiliza para que todos os vejam. Utiliza sim para si mesma e para seu engrandecimento. A Sacerdotisa conhece os mistérios ocultos do Universo e é através dela que podemos crescer no autoconhecimento. O Mago conhece das leis universais? Sim. Mas, não as sabe. Conhecer não é saber. O Mago tem um poder ilimitado, mas é limitado em si mesmo. Já a Sacerdotisa é a profundidade de um poder infindável, pois já vivenciou todos os mistérios. Ela é primeira Mestra que encontramos em nossos caminhos.

Mística, sábia, misteriosa, mulher. Enfim, Sacerdotisa! Ela vai além do Mago, que é um Iniciado. Ela é aquela que tem as chaves para abrir as portas dos Mistérios. É uma Iniciadora.


Ela alguma vez já falou com vocês? Se sim, comente Suas palavras aqui nos comentários. ;)


Dallan Chantal

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

FAMÍLIA


Hoje eu tive um sonho, e foi assim...

Eu estava com meus amigos em uma reunião e, de repente, cada um foi transportado para o passado em suas respectivas casas, com suas famílias e local onde viveram sua infância. Nossa, como foi maravilhoso! Eu acabei de acordar, fui conferir algumas coisas e vim direto escrever isso, então as memórias e sensações ainda estão muito vivas na minha mente.

Tudo estava muito claro, era dia ensolarado com um cheiro de chuva do dia anterior. Mas, o melhor de tudo, foi ver meu bairro, o lugar onde eu cresci, onde ainda vivo, com meus olhos de criança. Eu sempre me preocupei porque minha mente sempre esteve bloqueada para minhas lembranças da infância. Simplesmente não consegui lembrar nada! No entanto, nesse sonho foi tudo tão nítido e claro como se uma luz tivesse se acendido que fiquei até chocado.

Vi as árvores que eu subia quando criança, a forma dessas árvores exatamente como eram e lembrei quais os galhos que eu subia para brincar. Vi o clube do bairro quando ainda nem tinha antena telefônica de 60m e que tinha um buraco na cerca que eu usava para entrar. Vi a paisagem como era quando ainda não tinha uma passarela que liga um lado do bairro ao outro, dando passagem segura pela BR que passa por aqui. Porém, o mais mágico de tudo foi ver as pessoas.

Eu recordei várias pessoas que já fizeram a passagem. Eu conversava com elas, sabendo que já estavam mortas e perguntava quais seus sonhos, interesses, desejos. Elas me respondiam com um brilho e um sorriso no rosto que era reconfortante. E eu tive a certeza, se não nessa vida, na outra elas serão atendidas. Quando tive esse vislumbre é que eu vi minha família.

Aqueles que me conhecem sabem que sempre disse que minha família é minha grande ferida nessa vida. Minhas dores, brigas mais intensas e até raiva quase sempre vem da minha família. Mas, vê-los no meu sonho foi como um banho de mar após uma longa temporada no deserto: revigorante!

Conversei com todas, ri com todos e, o que não fiz com os mortos, contei que tinha vindo de 2015 e que poderia contar a eles o que quisessem do futuro. Após algumas brincadeiras eles me disseram que não se importavam, pois era irrelevante. A única pessoa que não me recordo agora de ver é meu avô falecido. Eu queria muito tê-lo visto e abraçado, pois me lembro dele com muito carinho. Mas, no lugar dele eu vi minha avó. Infelizmente hoje ela está acamada, em coma e sob os cuidados constantes de enfermeiras. No sonho, ela veio deslumbrante, assim como era antes de se adoentar.

Ela pegou minha mão, sentou comigo e me disse:

“Apesar da família ser sua ferida, ela também é seu baluarte, sua força e seu ser. Eu não construí isso tudo a toa. Essa família sou eu e se ela ainda vive é por mim.

Não pense que não vejo as coisas. Consigo ver tudo que acontece comigo ao meu redor. Alguns truques que se aprende quando se vive muito tempo no mundo espiritual. Mas, o que mais vejo é que você precisa aprender isso: sabe esse sentimento de amor que sentiu, de pertencimento ao local onde nasceu? Sabe por que ele surgiu? Por que ele existe dentro de você, apesar de negá-lo.

Quando crescemos nos tornamos mais egoístas e menos conscientes de um grupo, e daí surgem várias discussões. Mas, veja quando criança o grande, imenso amor que você recebia. Sua mente podia não lembrar, mas sua Alma sente, lembra e anseia por aquilo novamente e desesperadamente. É assim que surge nas pessoas o desejo de constituírem família. E é esse o motivo também de amarmos as pessoas de nossa família, porque reconhecemos subjetivamente e inconscientemente esse amor recebido.”

De repente, não estava mais no passado, mas na mesma reunião com meus amigos. Todos compartilhamos que voltamos no tempo e revemos nossas famílias. Olhei no relógio do meu celular e nem me lembro das horas, mas do ano: 1.996. Abracei meu amigos e chorei... e chorando, acordei.

Levantei, procurei algumas fotos das pessoas e do local nesse ano e qual não foi minha surpresa ao ver que o sonho as reproduziu perfeitamente! Agora eu entendo o discurso de família e patriotismo que nunca consegui entender antes. Eu já tinha esse conhecimento, mas como sempre digo: conhecer não é saber.

Assim como os grandes mistérios mágicos só são acessados quando vivenciados, assim também o são os mistérios da vida. Você pode ler 50.000 vezes sobre a Roda do Ano, enquanto não ritualizá-la, será algo muito vago e que você apenas conhece, mas não sabe.


Com relação a família, hoje eu posso dizer: seu sei! Obrigado vó.

Dallan Chantal

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

MAGO - TARÔ


Então, finalmente, vamos começar a falar dos arcanos? No texto anterior eu apresentei sucintamente um pouco sobre a origem do tarô, sua estrutura, como estuda-lo e sobre as comparações realizadas. Agora, pretendo esmiuçar cada um dos arcanos para que vocês conheçam mais sobre as cartas e poderem estudar mais profundamente sua estrutura.

Alguns tarólogos iniciam os estudos pelo Arcano Sem Número (Louco), também chamado de Arcano 0 ou Arcano 22. Mas, o Louco é o elo entre a primeira e a última carta do tarô e, por isso mesmo, a carta sem numeração dos arcanos maiores. Ele até representa a revolução da vida, mas não o início dela e é por este motivo em específico que pretendo não iniciar o estudo pelo Louco, mas sim pelo Mago.

Outro ponto: o estudo se dará baseado nos tarôs clássicos de padrão marselhês, ou seja, baseados no padrão do tarô de Marselha. Isso porque, como citei anteriormente, para se entender o tarô e o significado de cada carta temos que nos reportar aos seus símbolos originais. Por conseguinte, estudaremos a tarologia (estudo dos símbolos e seu conjunto simbólico) para depois adentrarmos na taromancia (utilização do arcano numa consulta de tarô). Vamos lá?

Simbologia

Essa lâmina é representada por um jovem em pé (simbolizando prontidão de ação) manuseando um bastão com a mão esquerda e uma moeda com a mão direita. O bastão é um instrumento mágico utilizado por sacerdotes e magistas de várias tradições como um canalizador e direcionador de energias. A mão esquerda é considerada como receptiva e estando segurando o bastão representa a capacidade de absorver as energias. Note que a mão esquerda aponta o bastão para o céu, ou seja, o Mago absorve as energias divinas para si. Mas, por que ele faz isso?

A mão direita é considerada ativa e usada para lançar energias e realizar a magia. A moeda, como sabemos, é um objeto de troca utilizado para a aquisição de bens materiais. Sendo assim, a mão direita estando segurando esse objeto e estando apontando para o chão vem representar que as energias divinas absorvidas pelo Mago são direcionadas para a cristalização de suas ideias. O que o Mago pensa, ele deseja concretizar. Por isso essa disposição das mãos.

Em algumas representações a mão que segura o bastão é a direita enquanto a esquerda segura a moeda. Isso simboliza que ele age com o intuito de obter tudo aquilo que deseja. Já em outras representações o Mago não segura nada, mas apenas têm sua mão direita apontando para cima e a mão esquerda para baixo com os dedos Indicador e Médio de ambas as mãos esticadas, ao mesmo tempo em que o restante dos dedos estão fechados. Essa é uma alusão ao axioma hermético “o que está embaixo é como o que está acima e o que está acima é como o que está embaixo, para realizar os milagres/mistérios de uma só coisa” (tradução livre). Ou seja, se assim você pensa, assim pode ser conforme sua vontade. Note que na cabeça do Mago há um chapéu que tem uma forma singular de uma lemniscata, o símbolo do infinito. Dando mais ênfase em poucas palavras: não importa o que você pense, se tiver vontade inabalável e souber direcionar corretamente suas energias, você conseguirá obter o que deseja!

Partindo para o restante da análise, perceba que o Mago está com as duas pernas dispostas separadamente do corpo como se estivesse pronto para a ação. As gramas aos seus pés também estão nascendo. Esse conjunto mostra que o Mago tem a força da criação em si e que não é estático, mas dinâmico. Ele não fica parado. Ao contrário, age o tempo todo. A direção de suas ações é voltada totalmente para o futuro, assim como mostra seu rosto olhando para a direita, pois a direita é a direção do futuro. Para se entender a questão das direções no Tarô é preciso entendê-lo como um quadro ao invés de um espelho, pois se o analisarmos como um espelho o Mago estará olhando para a esquerda, ou seja, o passado. Pense bem: como alguém consegue criar um passado? O passado já está criado! Como alguém consegue dar movimento à vida sem pensar “pra frente”? Além disso, está totalmente vestido de forma que nos impede de saber qual seu porte físico. Isto é, sua composição física não importa porque o Mago se utiliza não da força, mas da mente para concluir seus intentos.

Para finalizar a leitura dos símbolos, note que à sua frente há uma mesa com o símbolo dos quatro elementos do ocultismo ocidental: Terra, Ar, Fogo e Água. Em vários tarôs diferentes os artefatos que simbolizarão os quatro elementos poderão ser distintos. Segue, portanto, uma listinha básica:
·         Terra: dados, moeda e pentáculo (o pentáculo é um disco de madeira utilizado para concentrar as energias mágicas);
·         Ar: adaga e espada;
·         Água: cálice, copo e vasilha;
·         Fogo: bastão e chaleira.

Uma curiosidade a respeito da adaga/espada e bastão é que algumas tradições alteram a significação dos elementos que os representam: bastão sendo ligado ao Ar e adaga/espada sendo ligados ao Fogo. Mas, essa é apenas uma curiosidade corriqueira para o momento, pois o que quero salientar é que esses instrumentos estão inseridos em cima de uma mesa quadrada. O formato quadrado é ligado ao elemento Terra e os quatro elementos dispostos em seus limites aludem claramente que as ações do Mago são orientadas para a concretização de suas ideias, pois somente através da harmonia dos quatro (o quatro também é o número da matéria por excelência) é que a criação é possível.

Tarologia

O Mago representa o início de qualquer situação e as infinitas possibilidades que acompanham o começo de qualquer projeto. Ele mostra que o que se deseja pode ser conseguido. No entanto, ele não representa em momento algum a realização final de algo. O Mago é cheio de ideias, é inventivo, inteligente, confiante, curioso, criativo e por isso mesmo volúvel. Um jovem não gosta de ficar parado e muitas das vezes, por ter a cabeça cheia de ideias, logo se cansa daquilo que começou e parte para novos desafios. Ele tem a força e conhecimento necessário para atingir seus objetivos, mas tem a perseverança adequada? Infelizmente, não! Tudo é extremamente frágil e qualquer novo vento que o intrigue, o levará para novas direções.

Isso é algo a se ter atenção nesse arcano, pois ao mudar os planos constantemente, a semente que começou a germinar nunca irá brotar. Como, então, evitar isso? Como disse, com perseverança! Os planos do Mago não podem apenas ficar nas ideias e nas ações iniciais, mas precisam ser analisadas a contento para que possam frutificar. Também os obstáculos que se apresentam na vida não devem ser motivo para a desistência, mas sim, reflexão e reorganização, se necessário. Como disse Nei Naiff: “em toda vontade deve haver um planejamento, senão poderá ser desperdiçada”.

Pode representar também alguém com conhecimentos sobre espiritualidade, magia e vidência. Outro nome que o Mago tem é Ilusionista e, portanto, tem lábia e poder de persuasão imenso. Cair na armadilha do jogo de palavras com ele é muito fácil. Essa carta também não se reporta ao destino e ao carma, mas apenas a nossa vontade única de desejar algo. O destino em nada irá interferir nas ações do magista. Ele tem total liberdade para buscar o que quer que seja. Tudo está em suas mãos e seus caminhos estão abertos!

Taromancia

A taromancia não deve ser confundida com a tarologia, pois se corre o risco de uma interpretação errônea, visto que a taromancia é a leitura do oráculo e a tarologia é apenas o estudo dos símbolos das cartas. A taromancia é como o arcano deverá ser interpretado durante uma consulta de acordo com a questão formulada. Uma pergunta ligada a aquisição de bens deve ser analisada pelo plano material, jamais pelo plano espiritual do arcano, e assim valendo para todos os outros planos.

O plano material terá relação com o corpo, ciência, dinheiro, trabalho, posses, casamentos, contratos, Terra. O plano mental com a alma/psique, filosofia, estudos, profissão, intenção, planos, ideias, Ar. Já o plano sentimento com a alma/emoção, arte, desejos, paixão, sonhos, amor, anseios, Água. Enquanto que o plano espiritual com o espírito, religião, conceitos, dom, intuição, magia, ocultismo, Fogo.

Vejam a diferença de significação de acordo o plano elemental:

Ø  Material: Saúde, negociação, investigação, destreza, perícia, sorte.
Ø  Mental: Criatividade, eloquência, novas ideias ou ideais, habilidades a serem desenvolvidas, perspicácia.
Ø  Sentimental: desejos frágeis que rapidamente se desvanecem, galanteador, expectativa, espontaneidade, alegria, vaidade.
Ø  Espiritual: mediunidade desperta, visão, sonhos místicos, autoconhecimento, novas filosofias ou crenças de vida, adesão a ordens esotéricas e/ou místicas, alquimia.

Viram só a diferença? A interpretação do arcano sempre acontecerá de acordo com o tema da pergunta realizada.

Mas, além da interpretação dos quatro planos, existem também outras duas leituras para fazer de acordo com o método utilizado. Ou seja, durante uma consulta de tarô cada carta estará em um determinado local, também chamado de “Casa”, e essa posição poderá pedir uma leitura do atributo negativo ou de aconselhamento do arcano. Com relação ao atributo negativo, a interpretação não deve ser realizada de acordo com o que achamos ruim aos olhos éticos e morais que temos, mas de acordo com o simbolismo contrário do arcano. Exemplo: se o Mago representa ação e dinamismo, numa Casa de análise negativa ele informará que se está num momento de inação e preguiça.

Ø  Negativo: preguiça, desânimo, falta de vontade, inação, apatia, pessoa obtusa, ignorância (no sentido de desconhecimento), insegurança, falta de ideais, inabilidade, falsidade, falta de tato com as palavras, soberba.
Ø  Conselho: agir analisando os prós e contras da situação, ser flexível, usar a criatividade.

Musicalidade

Uma coisa que adoro fazer é relacionar os arcanos com canções. As músicas transmitem sentimento e tem a capacidade de nos transportar para o cerne de determinada questão tão fortemente que facilita a assimilação do arcano.

Portanto, deixo com vocês duas canções que penso se relacionarem com esse arcano. Caso vocês conheçam outras canções que podem representar o Mago, por favor, sintam-se a vontade de compartilhar nos comentários. ;)

NIGHTWISH – Wishmaster

BLACK SABBATH – The Wizard

Conclusão

Essa é uma das cartas que mais gosto no tarô. É a carta que representa por excelência o neófito (recém-iniciado) na Arte que se vê diante de inúmeras possibilidades em sua vida, tendo em mãos a capacidade de criar o que deseja, mas ainda sendo muito imaturo em suas escolhas e ações. Que isso fique claro: apesar do conhecimento que tem, o Mago não é um sábio!


Enfim, acho que não tenho muito que falar. Portanto, espero que tenham gostado e que eu tenha contribuído de alguma forma no crescimento de vocês. Só não se esqueçam de deixarem suas opiniões aqui nos comentários. =D


Dallan Chantal

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Vamos consultar o Tarô?


Depois de muita coragem e insistência de amigos eu finalmente escrevo sobre o Tarô. Durante muito tempo me senti despreparado para falar sobre esse oráculo, pois que me via como um eterno aprendiz. Oras, o tarô é cheio de mistério, símbolos, estruturas e afins. Mas, sabe de uma coisa? Se tornar um mestre em algo não significa que você deixa de ser um eterno aprendiz.

Desde pequeno me sentia atraído pelos assuntos ocultos e as cartas, antes mesmo da Bruxaria e do Paganismo em si, foram meu primeiro interesse. Ouvia histórias sobre cartomantes misteriosas que atendiam sob um véu de mistério, escondidas parcialmente pela fumaça de um incenso e que de forma peculiar olhava para o consulente, apontava uma carta e dizia: “ah-ahn”. Isso me fascinava. HAHAHAHA

Foi quando me deparei com meu primeiro baralho de tarô que muitos afirmavam ser o mais antigo e mais poderoso tarô existente: o tarô de Marselha. Eu manuseava as cartas e brincava que podia ler o futuro, passado e presente de qualquer pessoa. Sempre estudando mais e mais, participei de cursos e palestras, entrei em contato com tarólogos conhecidos e com isso fui descobrindo o que realmente é o tarô.

Afinal, o que é o tarô? Ele responde a qualquer pergunta? Quem responde pelo tarô? Precisa ser médium ou ter vidência para jogar? Precisa ser consagrado para ter eficácia? Ele realmente é um jogo egípcio? Quando trabalhamos com o tarô automaticamente contatamos alguns espíritos? Espero responder a tudo isso com esse artigo.

Afinal, o que é o tarô?

O tarô é um oráculo composto por 78 cartas, sendo 22 cartas primordiais e 56 cartas secundárias. Essas cartas também são chamadas de lâminas, mas são mais conhecidas como arcanos (provindo do latim arcanum = segredo, mistério).

Basicamente essa é a estrutura do tarô e qualquer jogo de cartas que não possuir essa composição, com a significação específica de cada arcano (que pretendo esmiuçar num próximo artigo), não pode ser considerado um tarô. Podemos chama-lo de oráculo, jogo de cartas ou qualquer outra denominação, menos tarô. Um oráculo muito conhecido e que muitas vezes é confundido com o tarô é o baralho cigano: Petit Lenormand (composto por 36 cartas) ou o Grand Lenormand (composto por 52 cartas).

É verdade que nem sempre o tarô teve essa estruturação, passando por períodos em que tinha apenas 37 e outras até 97 cartas. No entanto, chegou-se a um ponto onde se adequou a 78 cartas e é por esse motivo que podemos afirmar que qualquer oráculo que não siga essa métrica não é um tarô. Não é presunção fazer essa afirmativa, apenas uma constatação do óbvio.

Suas respostas

Baseado na compreensão de sua estrutura, podemos afirmar que o tarô responde a qualquer pergunta? De forma alguma. Esse é um tipo de oráculo que perguntas abstratas não estão em sua alçada, como “Qual o sentido da vida?”, “Serei feliz algum dia?”, “Qual a origem do Universo?”. Esses tipos de questionamentos são voltados para outros oráculos (astrologia, por exemplo) e para a religião. O tarô responde a perguntas objetivas na temporalidade.

Bom, que porra é essa que tu quis dizer agora, Dallan? Você deve estar se perguntando. O tarô fala da vida cotidiana, da concretização ou ruína dos planos, ideias e ideais, do estar presente numa determinada situação. Sendo assim, as perguntas mais adequadas são aquelas que visam responder essas questões do dia a dia em um tempo pré-estabelecido. Exemplos: “Comprarei minha casa esse ano?”, “Qual o nível de amor do meu relacionamento atual?”, “Serei demitido essa semana?”. Entenderam?

Ainda assim, quem responde pelo tarô? Um espírito? O inconsciente coletivo? Deuses? Eles podem te ajudar sim, mas não são nenhum nem outro que respondem pelo tarô. O conjunto de símbolos do tarô forma uma imagem arquetípica (não confundam com arquétipos) para cada carta que nos remeterão a um determinado significado. Esse conjunto simbólico nos contata com o Akasha, Luz Astral, inconsciente coletivo, não importa o nome que você dê, e nos permite ter um vislumbre do conhecimento geral.

Se um jogo de tarô for dado a um prisioneiro em uma cela e este souber utilizá-lo, ele será capaz de saber de tudo que está acontecendo no mundo! Mas, para se conseguir interpretá-lo é necessário muito conhecimento sobre suas estruturas e símbolos e esse estudo nunca findará. É uma via de conhecimento para toda a eternidade, pois sempre há algo novo a aprender, algo que nunca havíamos pensado antes, conexões que nunca tinham surgido em nossas mentes. O tarô responde por si próprio e responde sobre a vida.

Preciso ser médium ou ter vidência para jogar o tarô?

Se o tarô não é uma seita e não faz parte de qualquer religião, ele pode sim ser utilizado pelo adepto de qualquer fraternidade, ordem, seita ou religião, apesar de que tem agrupado mais fãs e pesquisadores ligados ao ocultismo e a psicologia. Devemos lembrar nesse ponto que um ocultista nem sempre é um magista, bruxo ou sacerdote, mas um pesquisador dos conhecimentos esotéricos.

Então, a resposta de um milhão de dólares é: não! Você não precisa ter dons místicos, velas, incensos, cristais, fazer cara de sabichão para impressionar e nem inúmeras outras coisas para ler o tarô. A única coisa imprescindível é conhecer e estudar seus símbolos e estrutura.

Com isso já excluo também a questão da “jogada por intuição”. Não tem dessa de não conhecer os símbolos e que apenas a intuição irá te ajudar. No way! É claro que a intuição é uma ótima aliada, mas o tarô é quase como uma ciência: basta apenas conhece-lo e conhecer suas leis para que todo o arcabouço de sua magnitude se revele ao buscador. Sem esse conhecimento se incorre na certeza de erros, equívocos e achismos.

Exemplo: não conheço o tarô e vejo a carta Morte. Vou começar a dizer que tudo vai minguar, pois tudo tem um fim e que é o ciclo natural da vida. Errado! Conhecendo o simbolismo da carta entende-se que a Morte vai muito além, sendo a representação de mudanças dos planos e ideias originais modificando-se algo para que o progresso continue. Não significa o fim, mas uma modificação no meio do caminho, uma trajetória diferente que se impõe para se alcançar o objetivo final.

Vejamos, para se entender o tarô precisamos apenas de conhecer seus símbolos e se trata de um oráculo que não pertence a nenhuma religião, e que também não se precisa de vidência para consulta-lo. Vou deixar duas perguntas para vocês mesmo responderem:

1.      Ainda acham que é preciso rituais para consagrá-lo e velas/incensos/cristais durante a consulta?
2.      Se começarem a trabalhar com o tarô, algum espírito irá fazer contato com vocês?

Então, é apenas um oráculo?

Claro que não!

Ao se estudar a estrutura pelo qual é composto, conseguimos perceber um moto-contínuo do caminhar de um sábio. Os tarólogos chamam a isso de O Caminho do Louco. Esse caminho se revela ao estudante das cartas como uma simbiose entre os arcanos em que cada passo leva a outro nos caminhos do autoconhecimento. Cada uma de suas estruturas (Binária, Ternária, Setenária, etc) é nada mais que o direcionamento de como está uma situação, como o consulente está na etapa de seus planos e por que ele deve agir de determinada maneira.

Pretendo expor essas estruturas em breve. É interessante que se estude essas estruturas, mas como imagino que alguns leitores podem estar tendo um primeiro contato com o tarô apenas agora, quero destrinchar primeiramente a tarologia de cada arcano e como ele pode se apresentar numa jogada para que depois as estruturas fiquem mais claras. Primeiramente falarei sobre os Arcanos Principais e, depois, dos Arcanos Auxiliares.

Qual a origem do tarô?

Outro ponto a ser ressaltado é que ele aparece pela primeira vez na história ao fim do século XIV na Europa Medieval como um jogo lúdico, somente depois se transformando em oráculo. Por
consequência, seus símbolos, ilustração, adereços e temática terão como imperativos a sociedade medieval da época. Para entendê-lo é necessário analisar as cartas sob o prisma medieval e não sob nossa sociedade atual. Isso é muito importante de se ter em mente, pois fugindo disso corre-se o risco de se realizar uma interpretação errônea causada por um etnocentrismo pueril.

E, já que falei sobre sua primeira aparição, informo que o tarô não é um jogo que sobreviveu aos séculos e que tenha sido criado pelos hindus, egípcios, judeus, ciganos ou quaisquer outros povos. Para se entender isso basta estudar um pouco de simbologia.

A palavra tem sua origem na Grécia (sumbolon) e tem como significado a expressão “que reúne”. Como o próprio nome nos diz, um símbolo tenta reunir, mas reunir o quê? Crenças, conceitos, sentido, linguagem e alegorias de determinada cultura/povo. Uma das capacidades humanas que nos distingue dos outros animais é a habilidade de simbolizar coisas, pois sem isso ainda estaríamos tentando nos comunicar com grunhidos.

Essa capacidade nos permite gerar memória e sentido social e por isso os símbolos são propagados e gravados para que o humano não caia no esquecimento e no caos. O símbolo por si organiza a forma de pensar de um povo. Como, então, o tarô poderia ter sido criado por quaisquer das culturas citadas acima se nenhum símbolo desse povo aparece nos jogos de cartas até antes de 1.970? Sim. O primeiro tarô com símbolos de uma determinada cultura que não a da sociedade medieval europeia foi o tarô Kier lançado no ano citado na Argentina!

Quando ler uma afirmação de que o tarô provém de alguma cultura em específico, questione melhor o que estiver lendo. Estudar sempre é a melhor chave para o conhecimento.

Conclusão

O tarô é uma ótima ferramenta para ser utilizada como oráculo e autoconhecimento. Não importa também com qual tarô se joga, tarô é tarô. Pode ser o de Marselha, Rider-Waite, Mitológico, Egípcio Kier, Crowley, etc. Uma vez que se conheça seus símbolos e estrutura, o tarólogo será capaz de ler qualquer tarô.

Também não há necessidade de estudar Cabala, Numerologia, Astrologia, Runas e afins para desvelar o tarô. Ele possui sistema e estrutura próprios. Algumas alusões podem ser feitas? Sim. Mas, não devemos depender o estudo desse oráculo em outro sistema, pois nem sempre esses sistemas conversarão entre si.

Enfim, nós tendemos a achar que tudo é fruto de um poder mágico sobrenatural que poderá revelar mistérios assombrosos, contudo, como diz uma escrita de revistinhas Wicca: “Às vezes uma vassoura é só uma vassoura”. Não um instrumento de voo!


À primeira vista, apresentar o tarô dessa forma, acessível a todos, tira sua aura de mistério e poder, mas veja além do que os olhos podem ver. Entendê-lo como uma ferramenta natural, ao invés de sobrenatural, aumenta sua credibilidade, pois existe uma lógica nas respostas. Ele não é o fruto de mentes insanas que vivem de devaneios ou uma arte de crentes supersticiosos. É sim um livro majestoso capaz de nos aconselhar sabiamente nas nossas decisões diárias e nos abrir o portal rumo ao autoconhecimento. Seja sábio. Seja Louco!


Dallan Chantal