Hoje
eu tive um sonho, e foi assim...
Eu
estava com meus amigos em uma reunião e, de repente, cada um foi transportado
para o passado em suas respectivas casas, com suas famílias e local onde
viveram sua infância. Nossa, como foi maravilhoso! Eu acabei de acordar, fui
conferir algumas coisas e vim direto escrever isso, então as memórias e sensações
ainda estão muito vivas na minha mente.
Tudo
estava muito claro, era dia ensolarado com um cheiro de chuva do dia anterior.
Mas, o melhor de tudo, foi ver meu bairro, o lugar onde eu cresci, onde ainda
vivo, com meus olhos de criança. Eu sempre me preocupei porque minha mente
sempre esteve bloqueada para minhas lembranças da infância. Simplesmente não
consegui lembrar nada! No entanto, nesse sonho foi tudo tão nítido e claro como
se uma luz tivesse se acendido que fiquei até chocado.
Vi
as árvores que eu subia quando criança, a forma dessas árvores exatamente como
eram e lembrei quais os galhos que eu subia para brincar. Vi o clube do bairro
quando ainda nem tinha antena telefônica de 60m e que tinha um buraco na cerca
que eu usava para entrar. Vi a paisagem como era quando ainda não tinha uma
passarela que liga um lado do bairro ao outro, dando passagem segura pela BR
que passa por aqui. Porém, o mais mágico de tudo foi ver as pessoas.
Eu
recordei várias pessoas que já fizeram a passagem. Eu conversava com elas,
sabendo que já estavam mortas e perguntava quais seus sonhos, interesses,
desejos. Elas me respondiam com um brilho e um sorriso no rosto que era
reconfortante. E eu tive a certeza, se não nessa vida, na outra elas serão
atendidas. Quando tive esse vislumbre é que eu vi minha família.
Aqueles
que me conhecem sabem que sempre disse que minha família é minha grande ferida
nessa vida. Minhas dores, brigas mais intensas e até raiva quase sempre vem da
minha família. Mas, vê-los no meu sonho foi como um banho de mar após uma longa
temporada no deserto: revigorante!
Conversei
com todas, ri com todos e, o que não fiz com os mortos, contei que tinha vindo
de 2015 e que poderia contar a eles o que quisessem do futuro. Após algumas
brincadeiras eles me disseram que não se importavam, pois era irrelevante. A
única pessoa que não me recordo agora de ver é meu avô falecido. Eu queria
muito tê-lo visto e abraçado, pois me lembro dele com muito carinho. Mas, no
lugar dele eu vi minha avó. Infelizmente hoje ela está acamada, em coma e sob
os cuidados constantes de enfermeiras. No sonho, ela veio deslumbrante, assim
como era antes de se adoentar.
Ela
pegou minha mão, sentou comigo e me disse:
“Apesar
da família ser sua ferida, ela também é seu baluarte, sua força e seu ser. Eu
não construí isso tudo a toa. Essa família sou eu e se ela ainda vive é por mim.
Não
pense que não vejo as coisas. Consigo ver tudo que acontece comigo ao meu
redor. Alguns truques que se aprende quando se vive muito tempo no mundo
espiritual. Mas, o que mais vejo é que você precisa aprender isso: sabe esse
sentimento de amor que sentiu, de pertencimento ao local onde nasceu? Sabe por que
ele surgiu? Por que ele existe dentro de você, apesar de negá-lo.
Quando
crescemos nos tornamos mais egoístas e menos conscientes de um grupo, e daí
surgem várias discussões. Mas, veja quando criança o grande, imenso amor que você
recebia. Sua mente podia não lembrar, mas sua Alma sente, lembra e anseia por
aquilo novamente e desesperadamente. É assim que surge nas pessoas o desejo de constituírem
família. E é esse o motivo também de amarmos as pessoas de nossa família,
porque reconhecemos subjetivamente e inconscientemente esse amor recebido.”
De
repente, não estava mais no passado, mas na mesma reunião com meus amigos.
Todos compartilhamos que voltamos no tempo e revemos nossas famílias. Olhei no
relógio do meu celular e nem me lembro das horas, mas do ano: 1.996. Abracei
meu amigos e chorei... e chorando, acordei.
Levantei,
procurei algumas fotos das pessoas e do local nesse ano e qual não foi minha
surpresa ao ver que o sonho as reproduziu perfeitamente! Agora eu entendo o discurso
de família e patriotismo que nunca consegui entender antes. Eu já tinha esse
conhecimento, mas como sempre digo: conhecer não é saber.
Assim
como os grandes mistérios mágicos só são acessados quando vivenciados, assim
também o são os mistérios da vida. Você pode ler 50.000 vezes sobre a Roda do
Ano, enquanto não ritualizá-la, será algo muito vago e que você apenas conhece,
mas não sabe.
Com
relação a família, hoje eu posso dizer: seu sei! Obrigado vó.
Dallan Chantal
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