Depois
de muita coragem e insistência de amigos eu finalmente escrevo sobre o Tarô.
Durante muito tempo me senti despreparado para falar sobre esse oráculo, pois
que me via como um eterno aprendiz. Oras, o tarô é cheio de mistério, símbolos,
estruturas e afins. Mas, sabe de uma coisa? Se tornar um mestre em algo não
significa que você deixa de ser um eterno aprendiz.
Desde
pequeno me sentia atraído pelos assuntos ocultos e as cartas, antes mesmo da
Bruxaria e do Paganismo em si, foram meu primeiro interesse. Ouvia histórias
sobre cartomantes misteriosas que atendiam sob um véu de mistério, escondidas
parcialmente pela fumaça de um incenso e que de forma peculiar olhava para o
consulente, apontava uma carta e dizia: “ah-ahn”. Isso me fascinava. HAHAHAHA
Foi
quando me deparei com meu primeiro baralho de tarô que muitos afirmavam ser o
mais antigo e mais poderoso tarô existente: o tarô de Marselha. Eu manuseava as
cartas e brincava que podia ler o futuro, passado e presente de qualquer pessoa.
Sempre estudando mais e mais, participei de cursos e palestras, entrei em
contato com tarólogos conhecidos e com isso fui descobrindo o que realmente é o
tarô.
Afinal,
o que é o tarô? Ele responde a qualquer pergunta? Quem responde pelo tarô? Precisa
ser médium ou ter vidência para jogar? Precisa ser consagrado para ter
eficácia? Ele realmente é um jogo egípcio? Quando trabalhamos com o tarô
automaticamente contatamos alguns espíritos? Espero responder a tudo isso com
esse artigo.
Afinal, o que é
o tarô?
O
tarô é um oráculo composto por 78 cartas, sendo 22 cartas primordiais e 56
cartas secundárias. Essas cartas também são chamadas de lâminas, mas são mais
conhecidas como arcanos (provindo do latim arcanum = segredo, mistério).
Basicamente
essa é a estrutura do tarô e qualquer jogo de cartas que não possuir essa
composição, com a significação específica de cada arcano (que pretendo esmiuçar
num próximo artigo), não pode ser considerado um tarô. Podemos chama-lo de
oráculo, jogo de cartas ou qualquer outra denominação, menos tarô. Um oráculo
muito conhecido e que muitas vezes é confundido com o tarô é o baralho cigano:
Petit Lenormand (composto por 36 cartas) ou o Grand Lenormand (composto por 52
cartas).
É
verdade que nem sempre o tarô teve essa estruturação, passando por períodos em
que tinha apenas 37 e outras até 97 cartas. No entanto, chegou-se a um ponto
onde se adequou a 78 cartas e é por esse motivo que podemos afirmar que
qualquer oráculo que não siga essa métrica não é um tarô. Não é presunção fazer
essa afirmativa, apenas uma constatação do óbvio.
Suas respostas
Baseado
na compreensão de sua estrutura, podemos afirmar que o tarô responde a qualquer
pergunta? De forma alguma. Esse é um tipo de oráculo que perguntas abstratas
não estão em sua alçada, como “Qual o sentido da vida?”, “Serei feliz algum
dia?”, “Qual a origem do Universo?”. Esses tipos de questionamentos são
voltados para outros oráculos (astrologia, por exemplo) e para a religião. O
tarô responde a perguntas objetivas na temporalidade.
Bom,
que porra é essa que tu quis dizer agora, Dallan? Você deve estar se
perguntando. O tarô fala da vida cotidiana, da concretização ou ruína dos
planos, ideias e ideais, do estar presente numa determinada situação. Sendo
assim, as perguntas mais adequadas são aquelas que visam responder essas
questões do dia a dia em um tempo pré-estabelecido. Exemplos: “Comprarei minha
casa esse ano?”, “Qual o nível de amor do meu relacionamento atual?”, “Serei
demitido essa semana?”. Entenderam?
Ainda
assim, quem responde pelo tarô? Um espírito? O inconsciente coletivo? Deuses?
Eles podem te ajudar sim, mas não são nenhum nem outro que respondem pelo tarô.
O conjunto de símbolos do tarô forma uma imagem arquetípica (não confundam com
arquétipos) para cada carta que nos remeterão a um determinado significado.
Esse conjunto simbólico nos contata com o Akasha, Luz Astral, inconsciente
coletivo, não importa o nome que você dê, e nos permite ter um vislumbre do
conhecimento geral.
Se um
jogo de tarô for dado a um prisioneiro em uma cela e este souber utilizá-lo,
ele será capaz de saber de tudo que está acontecendo no mundo! Mas, para se
conseguir interpretá-lo é necessário muito conhecimento sobre suas estruturas e
símbolos e esse estudo nunca findará. É uma via de conhecimento para toda a
eternidade, pois sempre há algo novo a aprender, algo que nunca havíamos
pensado antes, conexões que nunca tinham surgido em nossas mentes. O tarô
responde por si próprio e responde sobre a vida.
Preciso ser
médium ou ter vidência para jogar o tarô?
Se o
tarô não é uma seita e não faz parte de qualquer religião, ele pode sim ser
utilizado pelo adepto de qualquer fraternidade, ordem, seita ou religião,
apesar de que tem agrupado mais fãs e pesquisadores ligados ao ocultismo e a
psicologia. Devemos lembrar nesse ponto que um ocultista nem sempre é um
magista, bruxo ou sacerdote, mas um pesquisador dos conhecimentos esotéricos.
Então,
a resposta de um milhão de dólares é: não! Você não precisa ter dons místicos,
velas, incensos, cristais, fazer cara de sabichão para impressionar e nem
inúmeras outras coisas para ler o tarô. A única coisa imprescindível é conhecer
e estudar seus símbolos e estrutura.
Com
isso já excluo também a questão da “jogada por intuição”. Não tem dessa de não
conhecer os símbolos e que apenas a intuição irá te ajudar. No way! É claro que
a intuição é uma ótima aliada, mas o tarô é quase como uma ciência: basta
apenas conhece-lo e conhecer suas leis para que todo o arcabouço de sua
magnitude se revele ao buscador. Sem esse conhecimento se incorre na certeza de
erros, equívocos e achismos.
Exemplo:
não conheço o tarô e vejo a carta Morte. Vou começar a dizer que tudo vai
minguar, pois tudo tem um fim e que é o ciclo natural da vida. Errado! Conhecendo
o simbolismo da carta entende-se que a Morte vai muito além, sendo a
representação de mudanças dos planos e ideias originais modificando-se algo
para que o progresso continue. Não significa o fim, mas uma modificação no meio
do caminho, uma trajetória diferente que se impõe para se alcançar o objetivo
final.
Vejamos,
para se entender o tarô precisamos apenas de conhecer seus símbolos e se trata
de um oráculo que não pertence a nenhuma religião, e que também não se precisa
de vidência para consulta-lo. Vou deixar duas perguntas para vocês mesmo
responderem:
1. Ainda acham que é preciso rituais
para consagrá-lo e velas/incensos/cristais durante a consulta?
2. Se começarem a trabalhar com o
tarô, algum espírito irá fazer contato com vocês?
Então, é apenas
um oráculo?
Claro
que não!
Ao se
estudar a estrutura pelo qual é composto, conseguimos perceber um moto-contínuo
do caminhar de um sábio. Os tarólogos chamam a isso de O Caminho do Louco. Esse
caminho se revela ao estudante das cartas como uma simbiose entre os arcanos em
que cada passo leva a outro nos caminhos do autoconhecimento. Cada uma de suas
estruturas (Binária, Ternária, Setenária, etc) é nada mais que o direcionamento
de como está uma situação, como o consulente está na etapa de seus planos e por
que ele deve agir de determinada maneira.
Pretendo
expor essas estruturas em breve. É interessante que se estude essas estruturas,
mas como imagino que alguns leitores podem estar tendo um primeiro contato com
o tarô apenas agora, quero destrinchar primeiramente a tarologia de cada arcano
e como ele pode se apresentar numa jogada para que depois as estruturas fiquem
mais claras. Primeiramente falarei sobre os Arcanos Principais e, depois, dos
Arcanos Auxiliares.
Qual a origem do
tarô?
Outro
ponto a ser ressaltado é que ele aparece pela primeira vez na história ao fim
do século XIV na Europa Medieval como um jogo lúdico, somente depois se
transformando em oráculo. Por
consequência, seus símbolos, ilustração, adereços
e temática terão como imperativos a sociedade medieval da época. Para
entendê-lo é necessário analisar as cartas sob o prisma medieval e não sob
nossa sociedade atual. Isso é muito importante de se ter em mente, pois fugindo
disso corre-se o risco de se realizar uma interpretação errônea causada por um
etnocentrismo pueril.
E, já
que falei sobre sua primeira aparição, informo que o tarô não é um jogo que
sobreviveu aos séculos e que tenha sido criado pelos hindus, egípcios, judeus,
ciganos ou quaisquer outros povos. Para se entender isso basta estudar um pouco
de simbologia.
A
palavra tem sua origem na Grécia (sumbolon) e tem como significado a expressão
“que reúne”. Como o próprio nome nos diz, um símbolo tenta reunir, mas reunir o
quê? Crenças, conceitos, sentido, linguagem e alegorias de determinada
cultura/povo. Uma das capacidades humanas que nos distingue dos outros animais
é a habilidade de simbolizar coisas, pois sem isso ainda estaríamos tentando
nos comunicar com grunhidos.
Essa
capacidade nos permite gerar memória e sentido social e por isso os símbolos
são propagados e gravados para que o humano não caia no esquecimento e no caos.
O símbolo por si organiza a forma de pensar de um povo. Como, então, o tarô
poderia ter sido criado por quaisquer das culturas citadas acima se nenhum
símbolo desse povo aparece nos jogos de cartas até antes de 1.970? Sim. O
primeiro tarô com símbolos de uma determinada cultura que não a da sociedade
medieval europeia foi o tarô Kier lançado no ano citado na Argentina!
Quando
ler uma afirmação de que o tarô provém de alguma cultura em específico,
questione melhor o que estiver lendo. Estudar sempre é a melhor chave para o
conhecimento.
Conclusão
O
tarô é uma ótima ferramenta para ser utilizada como oráculo e autoconhecimento.
Não importa também com qual tarô se joga, tarô é tarô. Pode ser o de Marselha,
Rider-Waite, Mitológico, Egípcio Kier, Crowley, etc. Uma vez que se conheça
seus símbolos e estrutura, o tarólogo será capaz de ler qualquer tarô.
Também
não há necessidade de estudar Cabala, Numerologia, Astrologia, Runas e afins
para desvelar o tarô. Ele possui sistema e estrutura próprios. Algumas alusões
podem ser feitas? Sim. Mas, não devemos depender o estudo desse oráculo em
outro sistema, pois nem sempre esses sistemas conversarão entre si.
Enfim,
nós tendemos a achar que tudo é fruto de um poder mágico sobrenatural que
poderá revelar mistérios assombrosos, contudo, como diz uma escrita de
revistinhas Wicca: “Às vezes uma vassoura é só uma vassoura”. Não um
instrumento de voo!
À primeira
vista, apresentar o tarô dessa forma, acessível a todos, tira sua aura de
mistério e poder, mas veja além do que os olhos podem ver. Entendê-lo como uma
ferramenta natural, ao invés de sobrenatural, aumenta sua credibilidade, pois
existe uma lógica nas respostas. Ele não é o fruto de mentes insanas que vivem
de devaneios ou uma arte de crentes supersticiosos. É sim um livro majestoso
capaz de nos aconselhar sabiamente nas nossas decisões diárias e nos abrir o
portal rumo ao autoconhecimento. Seja sábio. Seja Louco!
Dallan Chantal
Adorei!! Ansiosa por mais artigos!! /\
ResponderExcluirJá escrevi novos. Dá uma olhada aqui no blog. ;)
ExcluirE obrigado pelo elogio. =D
Que legal que gostou =D
ResponderExcluirO do Mago eu já escrevi, dá uma olhadinha aqui. Estou escrevendo o da Sacerdotisa agora ;)
ótima introdução ao Tarô!
ResponderExcluirMuito obrigado! Fico feliz que tenha gostado. =D
ExcluirMuito bom, Dallan! Parabéns! Sensacional...
ResponderExcluirMuito bom, Dallan! Parabéns! Sensacional...
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