sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Vamos consultar o Tarô?


Depois de muita coragem e insistência de amigos eu finalmente escrevo sobre o Tarô. Durante muito tempo me senti despreparado para falar sobre esse oráculo, pois que me via como um eterno aprendiz. Oras, o tarô é cheio de mistério, símbolos, estruturas e afins. Mas, sabe de uma coisa? Se tornar um mestre em algo não significa que você deixa de ser um eterno aprendiz.

Desde pequeno me sentia atraído pelos assuntos ocultos e as cartas, antes mesmo da Bruxaria e do Paganismo em si, foram meu primeiro interesse. Ouvia histórias sobre cartomantes misteriosas que atendiam sob um véu de mistério, escondidas parcialmente pela fumaça de um incenso e que de forma peculiar olhava para o consulente, apontava uma carta e dizia: “ah-ahn”. Isso me fascinava. HAHAHAHA

Foi quando me deparei com meu primeiro baralho de tarô que muitos afirmavam ser o mais antigo e mais poderoso tarô existente: o tarô de Marselha. Eu manuseava as cartas e brincava que podia ler o futuro, passado e presente de qualquer pessoa. Sempre estudando mais e mais, participei de cursos e palestras, entrei em contato com tarólogos conhecidos e com isso fui descobrindo o que realmente é o tarô.

Afinal, o que é o tarô? Ele responde a qualquer pergunta? Quem responde pelo tarô? Precisa ser médium ou ter vidência para jogar? Precisa ser consagrado para ter eficácia? Ele realmente é um jogo egípcio? Quando trabalhamos com o tarô automaticamente contatamos alguns espíritos? Espero responder a tudo isso com esse artigo.

Afinal, o que é o tarô?

O tarô é um oráculo composto por 78 cartas, sendo 22 cartas primordiais e 56 cartas secundárias. Essas cartas também são chamadas de lâminas, mas são mais conhecidas como arcanos (provindo do latim arcanum = segredo, mistério).

Basicamente essa é a estrutura do tarô e qualquer jogo de cartas que não possuir essa composição, com a significação específica de cada arcano (que pretendo esmiuçar num próximo artigo), não pode ser considerado um tarô. Podemos chama-lo de oráculo, jogo de cartas ou qualquer outra denominação, menos tarô. Um oráculo muito conhecido e que muitas vezes é confundido com o tarô é o baralho cigano: Petit Lenormand (composto por 36 cartas) ou o Grand Lenormand (composto por 52 cartas).

É verdade que nem sempre o tarô teve essa estruturação, passando por períodos em que tinha apenas 37 e outras até 97 cartas. No entanto, chegou-se a um ponto onde se adequou a 78 cartas e é por esse motivo que podemos afirmar que qualquer oráculo que não siga essa métrica não é um tarô. Não é presunção fazer essa afirmativa, apenas uma constatação do óbvio.

Suas respostas

Baseado na compreensão de sua estrutura, podemos afirmar que o tarô responde a qualquer pergunta? De forma alguma. Esse é um tipo de oráculo que perguntas abstratas não estão em sua alçada, como “Qual o sentido da vida?”, “Serei feliz algum dia?”, “Qual a origem do Universo?”. Esses tipos de questionamentos são voltados para outros oráculos (astrologia, por exemplo) e para a religião. O tarô responde a perguntas objetivas na temporalidade.

Bom, que porra é essa que tu quis dizer agora, Dallan? Você deve estar se perguntando. O tarô fala da vida cotidiana, da concretização ou ruína dos planos, ideias e ideais, do estar presente numa determinada situação. Sendo assim, as perguntas mais adequadas são aquelas que visam responder essas questões do dia a dia em um tempo pré-estabelecido. Exemplos: “Comprarei minha casa esse ano?”, “Qual o nível de amor do meu relacionamento atual?”, “Serei demitido essa semana?”. Entenderam?

Ainda assim, quem responde pelo tarô? Um espírito? O inconsciente coletivo? Deuses? Eles podem te ajudar sim, mas não são nenhum nem outro que respondem pelo tarô. O conjunto de símbolos do tarô forma uma imagem arquetípica (não confundam com arquétipos) para cada carta que nos remeterão a um determinado significado. Esse conjunto simbólico nos contata com o Akasha, Luz Astral, inconsciente coletivo, não importa o nome que você dê, e nos permite ter um vislumbre do conhecimento geral.

Se um jogo de tarô for dado a um prisioneiro em uma cela e este souber utilizá-lo, ele será capaz de saber de tudo que está acontecendo no mundo! Mas, para se conseguir interpretá-lo é necessário muito conhecimento sobre suas estruturas e símbolos e esse estudo nunca findará. É uma via de conhecimento para toda a eternidade, pois sempre há algo novo a aprender, algo que nunca havíamos pensado antes, conexões que nunca tinham surgido em nossas mentes. O tarô responde por si próprio e responde sobre a vida.

Preciso ser médium ou ter vidência para jogar o tarô?

Se o tarô não é uma seita e não faz parte de qualquer religião, ele pode sim ser utilizado pelo adepto de qualquer fraternidade, ordem, seita ou religião, apesar de que tem agrupado mais fãs e pesquisadores ligados ao ocultismo e a psicologia. Devemos lembrar nesse ponto que um ocultista nem sempre é um magista, bruxo ou sacerdote, mas um pesquisador dos conhecimentos esotéricos.

Então, a resposta de um milhão de dólares é: não! Você não precisa ter dons místicos, velas, incensos, cristais, fazer cara de sabichão para impressionar e nem inúmeras outras coisas para ler o tarô. A única coisa imprescindível é conhecer e estudar seus símbolos e estrutura.

Com isso já excluo também a questão da “jogada por intuição”. Não tem dessa de não conhecer os símbolos e que apenas a intuição irá te ajudar. No way! É claro que a intuição é uma ótima aliada, mas o tarô é quase como uma ciência: basta apenas conhece-lo e conhecer suas leis para que todo o arcabouço de sua magnitude se revele ao buscador. Sem esse conhecimento se incorre na certeza de erros, equívocos e achismos.

Exemplo: não conheço o tarô e vejo a carta Morte. Vou começar a dizer que tudo vai minguar, pois tudo tem um fim e que é o ciclo natural da vida. Errado! Conhecendo o simbolismo da carta entende-se que a Morte vai muito além, sendo a representação de mudanças dos planos e ideias originais modificando-se algo para que o progresso continue. Não significa o fim, mas uma modificação no meio do caminho, uma trajetória diferente que se impõe para se alcançar o objetivo final.

Vejamos, para se entender o tarô precisamos apenas de conhecer seus símbolos e se trata de um oráculo que não pertence a nenhuma religião, e que também não se precisa de vidência para consulta-lo. Vou deixar duas perguntas para vocês mesmo responderem:

1.      Ainda acham que é preciso rituais para consagrá-lo e velas/incensos/cristais durante a consulta?
2.      Se começarem a trabalhar com o tarô, algum espírito irá fazer contato com vocês?

Então, é apenas um oráculo?

Claro que não!

Ao se estudar a estrutura pelo qual é composto, conseguimos perceber um moto-contínuo do caminhar de um sábio. Os tarólogos chamam a isso de O Caminho do Louco. Esse caminho se revela ao estudante das cartas como uma simbiose entre os arcanos em que cada passo leva a outro nos caminhos do autoconhecimento. Cada uma de suas estruturas (Binária, Ternária, Setenária, etc) é nada mais que o direcionamento de como está uma situação, como o consulente está na etapa de seus planos e por que ele deve agir de determinada maneira.

Pretendo expor essas estruturas em breve. É interessante que se estude essas estruturas, mas como imagino que alguns leitores podem estar tendo um primeiro contato com o tarô apenas agora, quero destrinchar primeiramente a tarologia de cada arcano e como ele pode se apresentar numa jogada para que depois as estruturas fiquem mais claras. Primeiramente falarei sobre os Arcanos Principais e, depois, dos Arcanos Auxiliares.

Qual a origem do tarô?

Outro ponto a ser ressaltado é que ele aparece pela primeira vez na história ao fim do século XIV na Europa Medieval como um jogo lúdico, somente depois se transformando em oráculo. Por
consequência, seus símbolos, ilustração, adereços e temática terão como imperativos a sociedade medieval da época. Para entendê-lo é necessário analisar as cartas sob o prisma medieval e não sob nossa sociedade atual. Isso é muito importante de se ter em mente, pois fugindo disso corre-se o risco de se realizar uma interpretação errônea causada por um etnocentrismo pueril.

E, já que falei sobre sua primeira aparição, informo que o tarô não é um jogo que sobreviveu aos séculos e que tenha sido criado pelos hindus, egípcios, judeus, ciganos ou quaisquer outros povos. Para se entender isso basta estudar um pouco de simbologia.

A palavra tem sua origem na Grécia (sumbolon) e tem como significado a expressão “que reúne”. Como o próprio nome nos diz, um símbolo tenta reunir, mas reunir o quê? Crenças, conceitos, sentido, linguagem e alegorias de determinada cultura/povo. Uma das capacidades humanas que nos distingue dos outros animais é a habilidade de simbolizar coisas, pois sem isso ainda estaríamos tentando nos comunicar com grunhidos.

Essa capacidade nos permite gerar memória e sentido social e por isso os símbolos são propagados e gravados para que o humano não caia no esquecimento e no caos. O símbolo por si organiza a forma de pensar de um povo. Como, então, o tarô poderia ter sido criado por quaisquer das culturas citadas acima se nenhum símbolo desse povo aparece nos jogos de cartas até antes de 1.970? Sim. O primeiro tarô com símbolos de uma determinada cultura que não a da sociedade medieval europeia foi o tarô Kier lançado no ano citado na Argentina!

Quando ler uma afirmação de que o tarô provém de alguma cultura em específico, questione melhor o que estiver lendo. Estudar sempre é a melhor chave para o conhecimento.

Conclusão

O tarô é uma ótima ferramenta para ser utilizada como oráculo e autoconhecimento. Não importa também com qual tarô se joga, tarô é tarô. Pode ser o de Marselha, Rider-Waite, Mitológico, Egípcio Kier, Crowley, etc. Uma vez que se conheça seus símbolos e estrutura, o tarólogo será capaz de ler qualquer tarô.

Também não há necessidade de estudar Cabala, Numerologia, Astrologia, Runas e afins para desvelar o tarô. Ele possui sistema e estrutura próprios. Algumas alusões podem ser feitas? Sim. Mas, não devemos depender o estudo desse oráculo em outro sistema, pois nem sempre esses sistemas conversarão entre si.

Enfim, nós tendemos a achar que tudo é fruto de um poder mágico sobrenatural que poderá revelar mistérios assombrosos, contudo, como diz uma escrita de revistinhas Wicca: “Às vezes uma vassoura é só uma vassoura”. Não um instrumento de voo!


À primeira vista, apresentar o tarô dessa forma, acessível a todos, tira sua aura de mistério e poder, mas veja além do que os olhos podem ver. Entendê-lo como uma ferramenta natural, ao invés de sobrenatural, aumenta sua credibilidade, pois existe uma lógica nas respostas. Ele não é o fruto de mentes insanas que vivem de devaneios ou uma arte de crentes supersticiosos. É sim um livro majestoso capaz de nos aconselhar sabiamente nas nossas decisões diárias e nos abrir o portal rumo ao autoconhecimento. Seja sábio. Seja Louco!


Dallan Chantal

7 comentários:

  1. Adorei!! Ansiosa por mais artigos!! /\

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    1. Já escrevi novos. Dá uma olhada aqui no blog. ;)
      E obrigado pelo elogio. =D

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  2. Que legal que gostou =D
    O do Mago eu já escrevi, dá uma olhadinha aqui. Estou escrevendo o da Sacerdotisa agora ;)

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  3. Muito bom, Dallan! Parabéns! Sensacional...

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  4. Muito bom, Dallan! Parabéns! Sensacional...

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